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Fábio Carvalho, o redes que dá pontos

 

Fábio Carvalho, 26 anos, Guarda-Redes do Vila FC e Treinador de Guarda-Redes do Centro de Formação e dos escalões de competição do Vilanovense FC. Começou a carreira no Vilanovense, passou pelo Rio Ave e pelo Coimbrões e retornou à casa que o viu crescer (perfil ZeroZero).

Bom dia Fábio, é do conhecimento geral que iniciou a sua carreira no Parque Soares dos Reis. Conte-nos como tudo começou.
 

O meu ingresso no Vila deve-se em grande parte a um colega de rua que infelizmente já faleceu. Jogávamos na rua de manhã à noite e como ele achava que eu tinha qualidade disse-me para ir tentar o Vila. O meu pai, como foi sempre adepto do Vila, concordou e fez força para eu ir treinar. 

Fui então fazer uns treinos como jogador atacante e sou inscrito como jogador de campo. Entretanto, num dos treinos, o guarda-redes lesionou-se e eu perguntei ao Mister Miguel (até à pouco tempo treinador do Vila) se poderia ir para a baliza. Ele aceitou e a partir daí nunca mais saí desta posição. 

Curioso que na rua onde jogava ia para a baliza, onde a roupa muitas das vezes não resistia e acabei por ficar muitas vezes de castigo. Andava todo remendado. Aqueles remendos da Ferrari nos joelhos, sabe?! Outra coisa curiosa é que o meu jogador de eleição de sempre era o Baía. Ia ao Estádio das Antas e estava sempre concentrado no Baía onde vibrava com qualquer defesa que ele fizesse… 

O Fábio saiu do Vilanovense diretamente para um clube de grandes dimensões, como é o Rio Ave. Como foi o seu percurso no Vilanovense até esse momento? 

Felizmente tive muitas alegrias, muitas mais vitórias que derrotas. Nessa altura, o pensamento de todos os que jogavam no Vilanovense era única e exclusivamente a vitória. 

A partir do momento que chego à baliza, efetuei a maior parte dos jogos como titular. No primeiro jogo, lembro me como se fosse hoje, defrontamos o Perosinho e empatamos 0-0. Curioso que fui para esse jogo a contar que iria para o banco mas o guarda-redes titular não apareceu ao jogo e a partir dali fui sempre titular. 

Lembro-me que logo no segundo ano de Escolinhas tive um convite para ir para o Boavista, mas como estava muito ligado aos meus colegas de equipa, o meu pai achou por bem não forçar a minha saída, pois era ali que eu estava bem. 

Nos Infantis, quando éramos orientados pelo mister Marco Vieira, tive dos melhores anos de formação, onde tivemos apenas uma derrota frente ao Avintes por 3 - 1 e chegamos á fase de disputa final contra grandes equipas como o Porto e Boavista. 

 Nesse ano cilindrávamos as equipas com 5, 10, chegando a mesmo a ganhar por 20 golos. Tínhamos uma equipa fenomenal com miúdos que sentiam o Vilanovense e que ainda hoje o sentem sendo eles praticamente todos meus amigos. 

Nos Iniciados acabo por sair do Vila e ir para o Boavista por ter tido grande destaque no primeiro ano de iniciados no Clube e na Seleção de Gaia. Ao fim de um ano regressei por sentir que não me davam a atenção necessária e, como jogava pouco, achei por bem tentar o meu regresso ao Vila onde fui aceite por todos muito bem. Por coincidência no primeiro jogo de pré-época defronto o Boavista onde fiz uma boa exibição. 

Nos Juvenis, como jogava sempre a titular, fui chamado aos Juniores e recordo-me que realizei 90% dos jogos neste escalão, onde conseguimos subir de divisão e chegar à Primeira Divisão Distrital. Como ainda era miúdo (Juvenil) lembro-me da grande emoção que senti e da grande felicidade que vivi. Fomos campeões da fase regular e da fase final ganhando 5-3 ao Aliança FC Gandra. 

Quando sou efetivamente Júnior (17 anos) sou chamado para terceiro guarda-redes dos seniores acabando por ser titular a época toda. No final desse mesmo ano recebo um convite do Rio Ave e do Gondomar, optando pelo Rio Ave por achar que iria ter mais visibilidade. 

Hoje vejo que talvez não tenha sido a melhor opção porque no Gondomar iria ser o terceiro guarda-redes de uma equipa Sénior que estava na Segunda Liga Portuguesa. 

Lembro me ainda com saudade dos tempos em que a nossa casa era o campo do Rechousa, aquele campo sem condições nenhumas mas acabou por me dar saudades desses tempos. Sabe, naquele tempo quem defrontava o Vila tremia, coisa que, infelizmente, neste momento já não acontece tanto. Mas tenho esperança de dentro de pouco tempo voltem a respeitar o Grande Vila. 

Sabemos que contraiu uma lesão grave, que o obrigou a parar por um período alargado. Em que medida esta situação o afetou? 

No Rio Ave comecei a época como titular até ao momento em que, por opção do treinador, sou substituído. A lesão veio numa altura em que o meu Mister, numa quinta feira, me informa que regressaria à titularidade, onde acabo por me lesionar no menisco num treino específico de guarda-redes. 

Por opinião médica, na altura, acharam que não era necessária a cirurgia acabando, assim para mim, a época no Rio Ave. Realizei reabilitação até ao final e início da época seguinte. Foi um período difícil para mim em que pensei que não iria conseguir arranjar clube. Como tinha feito poucos jogos achava que ninguém se ia lembrar de mim. Entretanto sou contactado pelo Coimbrões onde acabo por assinar. 

Esta lesão afectou-me uns anos mais tarde no Coimbrões. No meu primeiro ano, em que subi de divisão, da Terceira Nacional para a Segunda Divisão B, acabei por me lesionar aos 88 minutos num jogo já da fase final de subida, com uma entorse grave no pé direito, acabando por ficar de fora o resto da época. Fui submetido a duas cirurgias (pé direito e menisco) no meu segundo e terceiro ano de Coimbrões. 

Hoje penso que se as tivesse realizado mais cedo poderia ter sido diferente. Foi um período complicado com altos e baixos devido às lesões, sentia-me mais frágil, muito menos confiante. 

Como se sente agora, ao voltar a casa e poder ajudar o clube que o viu crescer a angariar pontos? 

Sinto-me muito feliz por me terem aberto as portas do Vila. Sinto-me bem, sinto-me em casa, mas esta pergunta acaba por ser um bocado agridoce porque não estamos bem na tabela classificativa. Eu tento ajudar ao máximo, mas responder a esta pergunta, sabendo que o Vila ainda está a discutir a permanência, como deve perceber não é fácil. Não sei que lhe diga, só que me sinto bem no Vila. 

Como é trabalhar com o Mister Remelgado? 

Para o Mister também não é fácil. Entrar a faltar 5 jogos para acabar a época… é complicado para ele. Não há varinhas mágicas. É um homem que acredita no trabalho dele, sendo exigente connosco, criando um bom ambiente no grupo. 

Quais são os seus planos para o futuro, sabendo que ainda é um Guarda Redes jovem? 

Os meus planos para um futuro a curto prazo são tentar ajudar o Vilanovense a manter-se nesta divisão. Só penso mesmo nisso... Neste momento só penso na manutenção. Quanto ao resto logo se verá, sendo que no Vila sinto-me muito bem, onde até agora sempre fui acarinhado pelas pessoas e pelo carinho que tenho pelo Clube. 

Conte-nos como se sente ao estar agora a ensinar tudo o que aprendeu aos atletas mais jovens do seu clube? Como se faz esta transição? 

Sinto-me muito bem! É um enorme prazer poder transmitir aos mais novos tudo aquilo que me transmitiram. Quero poder trabalhar com eles o gosto de ser guarda-redes de uma equipa. Quero ajudá-los a serem cada vez melhores. 

Tenho referências de profissionais pelos quais eu próprio passei e me ensinaram muito, como o Mister Neutel e o Mister Ernesto, que esteve comigo no início desta época do Vila, entre outros que foram cruciais na minha formação e é isso que eu lhes quero passar. 

Quero que cresçam, que ganhem responsabilidade e que percebam o que é ser guarda-redes. Quero passar lhes a minha paixão pelo futebol e é nesse sentido que eu os treino para serem cada vez melhores. 

É do conhecimento geral que existe uma carência muito grande de Guarda Redes nas camadas jovens. Porquê? E, na sua opinião, o que deve ser feito para colmatar esta lacuna? 

A escassez de guarda-redes devem-se aos Cristianos e Messis, porque todos, ou quase todos, querem ser como eles. Querem fazer as fintas do Messi e do Neymar, marcar os golos do Cristiano. São capazes de até apreciar uma boa defesa do guarda-redes, mas não querem ser como ele, querem ser como o jogador que fez o remate para o guarda-redes. 

A posição de guarda-redes é a mais ingrata no futebol, porque: um ponta de lança falhar um golo ou um médio falhar um passe, é uma coisa normal, mas se o redes calha de dar um frango, cai tudo em cima dele. E os pais, hoje em dia (nem todos) mas a maior parte, também não querem os miúdos na baliza, porque acham que é uma posição irrelevante no futebol. E querem que os miúdos sejam todos os tais Messis e Cristianos. Quando aparecer um novo Baía no futebol português, se calhar, aparecem mais meninos para a baliza. 

Resta-nos agradecer ao Fábio Carvalho a sua disponibilidade e tempo despendido para esta entrevista e desejar-lhe os maiores sucessos e felicidade para o seu futuro.

Obrigado

O Vila FC

(As fotos foram cortesias de Paulo Cardoso Fotografia e Jorge Domingos)

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