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Joel Rebelo, de Benjamim a Treinador

Joel Rebelo, 31 anos, motorista de ligeiros, Capitão e médio centro da equipa sénior do Vila FC. Vilanovense desde que deu o primeiro chuto numa bola. Começou muito pequenino a representar o Vilanovense FC, fez pequenas incursões por outros clubes já como sénior, mas, como sempre teve o Clube no coração, retornou como atleta e, também, formador.

Bom dia Joel,

Conte-nos como começou. Explique-nos como foi entrar no Vila pela primeira vez e quem o trouxe até este clube mítico.

Tudo começou em 1991, por intermédio do Sr. Américo, curiosamente hoje o secretário do nosso Clube. Como conhecia os meus pais há já algum tempo disse-lhes para eu ir treinar ao Vilanovense e assim foi. Com 7 anos entrei pela primeira vez nas portas daquele que seria para sempre o meu clube do coração.

Lembro-me perfeitamente que no dia que entrei, a primeira pessoa que vi foi o pai do nosso eterno e falecido Zéquinha. Por norma o Senhor Manuel estava sempre bem-disposto, tal como o nosso Zéquinha, mas se alguém fazia mal aos seus vasos teria de fugir.

Como foi o seu percurso pelas camadas jovens até se sagrar sénior do Vilanovense?

O percurso pelas camadas jovens, posso dizer, foi excelente a todos os níveis. Com sete anos entrei para as escolinhas e andei um ano a treinar sem competir, porque nesse ano não houve campeonato porque havia poucas equipas. O meu primeiro treinador no Vilanovense foi o Mister António Pedro, que toda a gente conhece. Chegou a ser treinador do Vilanovense a nível sénior.

Joguei em todos os escalões do Vilanovense, desde as escolinhas ao último ano de júnior. Fomos a seis fases finais disputar a subida aos nacionais, mas infelizmente nunca o conseguimos.

Treinávamos no Rechousa, Gulpilhares, Colégio Trancoso, até na rua chegamos a treinar, e conseguimos sempre manter um nível elevado. Nunca nas camadas jovens competi na segunda divisão distrital. Lembro-me que nessa altura, Coimbrões, Candal, Canidelo, Avintes, etc., jogavam todos nesta divisão e o Vilanovense sempre na primeira contra Boavista, Leixões, Rio Ave, Varzim, Gondomar, Porto, Salgueiros, Aves, etc.

Na altura era juvenil do Vilanovense e já ganhava dinheiro. Outros tempos, em que o futebol também era muito diferente, em que a mentalidade, nada tinha a ver com a de hoje. Antigamente o nosso sonho era chegar aos seniores do Vilanovense, hoje em dia já não é assim, infelizmente.

Descreva-nos a sua passagem de júnior para sénior e o seu percurso pelo Vilanovense FC até ao momento em que ingressou no Perosinho?

A minha passagem de júnior a sénior aconteceu no ano a seguir ao Vilanovense ter alcançado a melhor classificação (7º lugar se não estou em erro) no campeonato da 2ª Divisão B.

Subi pela mão do Mister Edmundo Duarte, que até hoje é e será o melhor exemplo como homem e treinador, não por ter sido ele a dar-me a oportunidade de integrar o plantel, mas sim pelas suas qualidades humanas, que são imensas, e como treinador. Grande homem, amigo de toda gente e de todos os seus jogadores.

Foi o concretizar de um sonho ter chegado aos seniores. Trabalhei muito para lá chegar, muitas vezes em condições adversas, como já referi atrás, mas consegui! O sonho estava concretizado e agora restava-me trabalhar ainda mais. Foram muitas épocas no meu clube a nível sénior com alegrias, tristezas, lágrimas e muito suor, mas orgulho-me daquilo que fiz e se pudesse voltar atrás fazia tudo igual.

Infelizmente o clube começou a cair, muita instabilidade, muitas dificuldades, enfim, começou a pagar por alguns erros cometidos no passado e então começamos a descer de divisão até pararmos na primeira divisão distrital. Nesta altura eu saí, porque havia tantas incertezas para a época seguinte e, como eu queria continuar a fazer o que mais gostava, assinei pelo G.D. Joane, que na altura me fez uma proposta irrecusável. Como continuava a não obter respostas do meu clube, saí.

Joguei meia época em Joane e em Dezembro saí e pedi ao Vilanovense para poder treinar com os seniores para não estar parado. Nesse final de época assinei pelo Nogueirense e as coisas até estavam a correr bem na pré-época, até que um dia me é comunicado que fui dispensado, até hoje ainda não sei o porquê.

O Vilanovense entretanto acaba com o Futebol sénior e passado uma época é criado o Vila Futebol Clube, em que o Treinador escolhido para o projecto foi o Mister Edmundo Duarte, que me faz regressar ao meu Clube novamente. Logo nesse ano, na 2ª distrital, subimos de divisão. Estivemos 29 jogos sem perder, acho que é um recorde, pelo menos no Vilanovense.

Na época a seguir, então na 1ª divisão, o Mister Edmundo decide não ficar e entra um treinador novo, Mister João Festas, que já tinha estado no clube quando estávamos na 2ª divisão B. As coisas não correram muito bem de início e estávamos no fundo da tabela. Saiu o João Festas e ficou à frente da Equipa o Mister Gonçalo Silva, que juntamente com o Mister Bandim nos levaram à manutenção que, diga-se de passagem, foi como uma subida de divisão. 

No final dessa época o presidente da comissão administrativa demitiu-se e o Vilanovense mais uma vez ficou a deriva. No período de férias foi-me dito, a mim e a mais um jogador, por uma pessoa da comissão administrativa que, se tivéssemos convites, para aceitar o que fosse melhor, porque o Vilanovense não iria ter mais futebol sénior e, então, novamente o facto de querer continuar a jogar levou-me aceitar o convite do C.F. Perosinho. 

Como foi voltar ao Clube do seu coração? 

Ter voltado ao clube do coração foi uma alegria enorme! Foi o concretizar de mais um objectivo que eu tinha, porque não tinha saído do Vilanovense, mas, e com muita mágoa o digo, sinto que fui empurrado para fora dele e não sei porquê. 

Sempre defendi o clube como podia, sempre dei tudo em campo e nunca faltei ao respeito a ninguém, apesar de muitas vezes me terem faltado a mim, mas como se diz as pessoas passam o Clube fica. 

Poderá haver mais Vilanovenses que sintam o clube como eu, mas mais do que eu ninguém sente. São 22/23 anos de Vilanovense! Passei pelo melhor mas também passei pelo pior. Agradeço do fundo do coração a todas as pessoas que me proporcionaram o regresso ao meu clube, a todas mesmo o meu muito obrigado. 


A época que agora terminou foi um pouco atribulada, em que para o fim já poucos acreditavam que o Vila FC se mantivesse na Divisão de Honra. Conte-nos como foi viver estes momentos de dificuldade e conte-nos, também, como foi a alegria no momento em que garantiram a permanência no Estádio do Tourão?
 

A época passada poderia ter sido de sonho e quase que virava pesadelo. Fizemos um início de época esplêndido na minha opinião, mas depois a saída da equipa técnica liderada pelo Mister Jerry Silva, a saída de muitos jogadores, a entrada de outros e entrada de outra equipa técnica abalou imenso o grupo e fomos caindo, não porque quiséssemos mas porque o futebol é assim. 

Culpados? Somos todos e não podemos fugir às responsabilidades, mas há coisas que naquele balneário sempre se mantiveram intactas: a nossa união, o nosso acreditar e o nosso espírito de grupo, e foi isso que nos levou a conseguir não o objectivo inicial mas sim aquilo que no mínimo poderíamos fazer, a manutenção. 

Passamos uma época terrível! O que diziam fora do campo, o que ouvíamos, o que se lia, tudo e mais alguma coisa. Até chegamos ao ponto de ouvir que nós, jogadores, fazíamos de propósito e que queríamos bater em treinadores. Isso são coisas mínimas, que não devemos ligar, mas nem todos somos iguais. Uns encaixam outros não e, como se diz às vezes, «é pior a cisma que a doença». 

No último jogo sabíamos que tínhamos de vencer e esperar que o Balasar não ganhasse e foi o que aconteceu felizmente. Perante aquilo que sofremos e que lutamos durante a época, teríamos de ser compensados e fomos graças a Deus. Depois do apito final foi um misto de sentimentos: alegria, lágrimas, abraços, tudo e mais alguma coisa. Para nós jogadores valeu como uma subida devido a tudo aquilo que passamos. Foi um momento único, daqueles momentos que um dia mais tarde todos iremos nos recordar e contar. 

Pergunta da praxe: como é trabalhar com o Mister Remelgado? 

Infelizmente não pude trabalhar directamente com o Mister Remelgado, por estar lesionado, mas tive presente em todos treinos e todos jogos. 

Já conheço o Mister Remelgado há muitos anos e o seu currículo fala por si, mas há um facto muito importante que deve ser realçado: é que ele é conhecedor da Historia do Vilanovense. Ele faz parte da Historia do Vilanovense e isso, na minha opinião, contou muito para esta recta final do campeonato. 

É um conhecedor da riqueza e do estatuto do clube e fez passar isso ao grupo. Motivou-nos, deu-nos confiança, fez-nos acreditar que era possível. Também a ele agradeço, como o fiz no final do jogo em Sandim, dei-lhe um abraço e agradeci-lhe pelo grande feito. 

A tarefa de um capitão de equipa, resumidamente, é manter a união do balneário e liderar os colegas durante os jogos. Como diligencia estes dois processos? 

O ser capitão não é só escolher campo ou bola e andar com uma fita no braço. Ser capitão tem muito que se lhe diga. Não é fácil liderar 24/25 jogadores, todos eles com feitios e formas de estar diferentes mas, penso que correu tudo bem. Não houve problemas isso é o mais importante. 

Liderar nos jogos e dentro do campo é diferente, porque acho que somos todos capitães lá dentro. Não sou só eu a chamar atenção ou corrigir, porque todos o devem fazer para ajudar e assim seremos mais fortes. 

Por vezes, e em algumas situações, o capitão é que tem de agir perante o árbitro, principalmente aí, porque de resto sou um atleta como os outros. Também falho, sou humano, e se tiverem de me chamar atenção, não há problema algum, sou humilde, como sempre fui, para ouvir. Era um capitão orgulhoso do grupo que liderava. 



O Joel também é treinador das camadas jovens. Sabemos que já trabalhou no passado com outros treinadores, mas este ano foi bastante produtivo com o escalão de Iniciados, conseguindo um honroso 7º lugar e mantendo o escalão na 1ª Divisão da A.F. Porto. Como conseguiu?
 

O desafio de orientar uma equipa jovem do Vilanovense chegou 4 dias antes das eleições que o nosso Clube teve no final da época passada, ou seja 2014/2015, convite esse feito pelo actual presidente António Coelho, caso vencesse as eleições no Clube, e não como muita gente chegou a dizer, que eu já estava contratado como treinador 3 meses antes.

Fiquei extremamente contente pelo convite e dei de imediato a minha palavra ao Presidente. Quero aqui lembrar que já tinha estado no Clube duas épocas como Treinador Adjunto do Jorge Gomes nos Benjamins Sub 11, no qual fomos dois anos campeões. Uma das épocas saímos a faltar 5 jogos mas com vários pontos de vantagem sobre o segundo classificado por isso considero que tivemos dois títulos. 

Relativamente à permanência na 1ª divisão de Iniciados, não foi tão fácil como pareceu. Quando chegamos (eu e o Diogo Oliveira) ao Vilanovense deparámo-nos com algumas saídas do plantel e tivemos que arranjar soluções no imediato. Então trouxemos jogadores que já tinham trabalhado connosco em Perosinho e tivemos também a sorte de nos aparecerem alguns miúdos vindos do Coimbrões, São Félix, etc. 

Eu não consegui nada, apenas tentei passar alguns conhecimentos que adquiri e vou adquirindo. Aquilo que conseguimos deve-se ao trabalho dos miúdos, que acreditaram no nosso trabalho, mas, sobretudo, acreditaram neles próprios. 

Tivemos jogos fantásticos, em que no banco deliciava-me com jogadas, golos, pormenores técnicos, tudo mesmo. Fui um privilegiado por ter treinado este grupo de jogadores, mas penso que com mais algum rigor extra futebol as coisas poderiam ter corrido de outra forma e se calhar ficarmos ou andarmos mais próximos dos dois primeiros lugares, mas assim não aconteceu. Contudo, penso que foi uma época positiva, ficando um gostinho amargo em alguns jogos, mas o futebol é assim mesmo, do outro lado também há uma equipa. 

Como se sente agora a ensinar o que aprendeu? 

Ensinar o que aprendi e aprender o que estes jovens também me ensinam, acho que é mais assim. E ensinar no Clube do meu coração dá outro ânimo, outro significado, mas o profissionalismo é o mesmo seja em que clube for.

Durante a época aprendi imenso com este grupo de jogadores, se bem que esta idade dos 14/15 não é nada fácil. É a época da irreverencia, da descoberta. Começam a aparecer as namoradas e torna-se complicado conseguirmos focar 23/24 jogadores no mesmo espírito. 

Mas adoro ensinar, passar conhecimentos adquiridos, valores como homem e jogador, disciplina acima de tudo e nisto sou muito rigoroso. Prefiro perder um jogo do que perder dois ou três jogadores por expulsão e, felizmente, em quatro anos que sou treinador principal, as minhas equipas só tiveram dois jogadores expulsos. 

Não há nada melhor que estar com um grupo de miúdos. É uma experiência espectacular mesmo. Pessoalmente é algo que me dá um prazer enorme. Poder treinar, ensinar, ouvir as opiniões deles, ouvir as “tangas” deles [risos]... Penso que numa equipa de miúdos há tempo para tudo: para trabalhar, para brincar e para se divertirem e com resultados positivos ainda melhor. 

Como se faz esta transição de atleta para formador, sabendo que ainda está no activo como atleta? 

Não é fácil conciliar o facto de ser atleta e formador a nível de tempo apenas, porque de resto é bastante fácil. O futebol é algo que me está no sangue desde muito pequeno e quando o fazemos por prazer e gosto e, ainda, quando estamos no nosso clube tudo se torna mais fácil. 

São duas coisas bem diferentes, porque como formador somos o líder, temos as nossas ideias e colocamo-las em prática, ou pelo menos tentamos. Como jogador é diferente, temos um líder e temos de fazer aquilo que ele nos pede mesmo que muitas vezes nós próprios achemos que está errado, mas se o líder nos pede, temos de o fazer e isso é o mais importante. 

Num grupo de futebol o mais importante é a Equipa e não nós próprios. Somos um todo e a nossa União é que nos traz resultados. Por vezes não chega, mas na maioria das vezes resulta. 

Quais são os seus planos para o futuro no que diz respeito à função de atleta e à de treinador? 

Os meus planos para o futuro... [pausa] 

Como jogador já não tenho grandes planos, já passei a barreira dos 30 anos o sonho que tinha aos 18 já vai longe, pese embora, que concretizei o meu maior sonho, que foi ter chegado aos seniores do Vilanovense e ter sido profissional.

Agora jogo por prazer, por paixão e porque há sempre aquele bichinho da bola. Sinceramente não me estou a ver deixar o futebol. Poderá estar próximo mas penso que vai ser o meu maior desgosto, gostaria de poder jogar para sempre [risos]… 

Como treinador, para já, orgulho-me daquilo que tenho feito. Comecei nos Benjamins e já vou nos Iniciados, sem nunca dar um passo maior que a perna. Tenho tempo de chegar mais acima e trabalho para isso, mas cada coisa a seu tempo. Quero evoluir cada vez mais e focar-me naquilo que pretendo e acredito que as oportunidades vão surgir. 

#SOMOSVILA #AUNIAOFAZAFORCA 

P.S.- Gostava de agradecer ao Vilanovense.pt e ao Carlos Santos pela oportunidade que me deram e que continuem com o bom trabalho realizado até aqui. Criticas haverão sempre, mas só critica aquele que não tem capacidade para algo acima das suas capacidades. Abraço!

Resta-nos agradecer ao Joel Rebelo a sua disponibilidade e tempo despendido para esta entrevista e desejar-lhe os maiores sucessos e felicidade para o seu futuro. Queremos agradecer também em nome do Vilanovense.pt e do Carlos Santos pelas suas palavras.

Obrigado

O Vila FC

(As fotos foram cortesias de Paulo Cardoso Fotografia e Facebook do Joel Rebelo)
(Notícia elaborada por CSantos Consultoria)

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